20/05/2024 às 19h14min - Atualizada em 20/05/2024 às 19h14min

Água baixa no Guaíba e nas ruas, enquanto Porto Alegre avalia estragos e retoma aulas

Lago Guaíba chegou a 4,25 metros nesta segunda na capital Porto Alegre. Na Lagoa dos Patos, nível baixou a 2,51 metros. Moradores de áreas de risco começaram a voltar para casa na Serra.

g1
Foto: Reprodução
 

As águas do Guaíba voltaram a baixar durante esta segunda-feira (20), após uma leve alta na madrugada. Durante a tarde, o lago marcava 4,25 metros em Porto Alegre, de acordo com a mais recente medição da Agência Nacional de Águas (ANA).

As águas também estão recuando nas ruas de bairros que foram alagados há quase três semanas. Isso permite que a cidade comece a retomar algumas atividades, como as aulas em parte da rede municipal de ensino, e a contabilizar estragos. Foi feita a coleta de mil toneladas de lixo das ruas - e ainda há muito entulho espalhado.

A expectativa de recomeço também é vista na Serra, com moradores voltando para casa em um dos bairros mais afetados em Caxias do Sul. No Sul do estado, a Lagoa dos Patos ainda mantém em alerta a população de São Lourenço do Sul e Pelotas.

Em Travesseiro, no Vale do Taquari, a prefeitura registrou uma morte por leptospirose. A doença é transmitida na água suja, misturada com a urina de ratos. O óbito não constava na lista de vítimas dos temporais e cheias, que já soma 157 mortos e 85 desaparecidos.

A Climatempo alerta para a previsão de chuva no Sul do estado a partir de terça (21), com acumulados de até 90 milímetros. Na quinta (23), a instabilidade chega a porção centro-norte do RS, incluindo Serra, Região dos Vales e Porto Alegre. O volume de chuva deve chegar a 60 milímetros nessas regiões.

Na sexta-feira (24), continua chovendo em todo o Rio Grande do Sul. As temperaturas despencaram à tarde. Apesar de não ter previsão de acumulados altos, a chuva ainda cai pontualmente forte em algumas regiões, com risco de transtornos, afirma a Climatempo.

Recuo do Guaíba

O Guaíba marcou 4,25 metros às 16h15 nesta segunda. O nível significa uma nova queda, depois de um leve avanço registrado durante a madrugada. A cota de inundação é de 3 metros. No dia 5 de maio, o lago chegou ao recorde histórico, de 5,35 metros.

Os cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) projetam que o nível do lago fique abaixo dos 4 metros ao longo desta semana. No entanto, a previsão de chuva e a direção do vento podem alterar esse cenário.

"A principal preocupação do momento é como será a descida e duração em níveis elevados em função de possíveis chuvas e efeito do vento", aponta o IPH.

A água também está baixando dentro de Porto Alegre. Bombas de água enviadas pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) começaram a operar no domingo (19), no bairro Sarandi, na Zona Norte. O equipamento é utilizado pela prefeitura para acelerar o escoamento de água nas áreas mais atingidas pelas enchentes.

O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) afirma que já retirou mil toneladas de lixo acumulado nas ruas. Parte dos resíduos é de móveis e objetos que foram danificados pela água.

Por outro lado, na Região das Ilhas, a situação ainda é crítica. Sem poder voltar para casa, mais de 200 pessoas improvisaram moradias em barracas, carros e até debaixo de uma ponte. O estado soma 76,9 mil pessoas em abrigos e 581,6 mil pessoas desalojadas (em casas de amigos ou parentes).

"É ruim, é terrível. Só não está pior porque a gente consegue ajuda. Na minha casa, a água tá no telhado. Perdi tudo", conta José Odair Aires da Conceição.

Um hospital de campanha começou a operar na capital. A estrutura foi montada junto à Unidade de Saúde Bom Jesus, na Zola Leste. O local tem capacidade para realizar até 300 atendimentos por dia.

"É composto de dois leitos, com respiradores, bomba infusora. Necessidade de intubação, temos essa capacidade, e o que for necessário para poder dar o melhor atendimento para a população", diz o tenente-coronel Mauricio Specterow, médico responsável pela unidade.

Cerca de 40% das 318 escolas da rede municipal de Porto Alegre retomaram as atividades nesta segunda. São 126 instituições, sendo 26 administradas pela prefeitura e 100 conveniadas.

Outras 17 escolas reabrem na terça, quatro retomam as atividades na quarta (22) e mais três na próxima segunda-feira (27). Ao todo, 50 escolas municipais já têm a reabertura confirmada.

"Aquelas escolas que têm condição, que têm estrutura física, energia, água e servidores, estão abrindo e recomeçando as atividades essa semana", diz o secretário da Educação, José Paulo da Rosa.

O secretário também destaca que o recesso de julho será mantido "até porque nessa semana nós precisamos de todo o nosso efetivo pra fazer a busca ativa dos estudantes e poder iniciar as atividades". O calendário letivo não deve sofer alterações, mas os conteúdos podem ser recuperados em 2025, afirma o titular da Secretaria Municipal da Educação (SMED).

A situação é mais crítica na rede estadual, que não tem previsão de reabertura em escolas das regiões de Porto Alegre e Canoas . Em todo o RS, dos 2.340 colégios, 1.779 já retomaram as aulas, enquanto 561 ainda estão fechados (483 sem previsão de reabertura). Dos 741 mil estudantes de escolas públicas estaduais, 222 mil (30%) ainda estão sem aulas.

A rede privada de ensino, que atende cerca de 40 mil alunos em mais de 300 colégios, está, em sua maioria, retomando as aulas.

Os voos comerciais na base aérea de Canoas devem ser liberados a partir desta terça-feira (21). A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já tinha dado aval à operação, mas faltava a definição de uma data.

A informação nova é que a Fraport – concessionária do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que está alagado – viabilizou o início das operações aéreas na base militar a partir desta terça, e informou às autoridades. Fontes do setor confirmaram que, com isso, a venda de passagens deve começar ainda nesta semana.

Na manhã desta segunda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com ministros para falar sobre a coordenação das ações de ajuda ao RS. No encontro, o presidente pediu foco em três frentes: bombas para escoar água, reconstrução de escolas e reconstrução de hospitais. Definir as ações imediatas e as áreas prioritárias vai garantir que as medidas andem mais rapidamente – a população precisa de ajuda de forma urgente.

Em Caxias do Sul, os moradores começaram a voltar para casa na localidade de Galópolis. Ao todo, 150 famílias que estavam em uma área de risco para deslizamentos foram autorizadas para retornar. Pessoas e veículos já podem circular por algumas ruas dos bairros.

"Não tem lugar melhor nesse mundo que a nossa casa. Sinto muito por todos que perderam suas residências, que não podem estar ocupando suas residências novamente. A gente saiu porque a Defesa Civil nos retirou, por segurança, mas, graças a Deus, nossa casa está de pé, ela está firme", diz o pintor Daniel de Brida.

Geólogos seguem avaliando as condições do solo. Por outro lado, 70 famílias ainda não podem voltar para casa, porque não há estabilidade no solo, há muita umidade e há pedras soltas e árvores caídas na região.

A RSC-453, a Rota do Sol, segue sob monitoramento por conta da possibilidade de um deslizamento na região de Vila Seca, em Caxias do Sul.

Em Bento Gonçalves, as autoridades ainda procuram por cinco pessoas que desapareceram há três semanas. A maioria estava na Linha Alcântara, uma localizada que fica na proximidade do Rio das Antas. Também há buscas por uma mulher desaparecida em Veranópolis.

A medição oficial da Lagoa dos Patos, em São Lourenço do Sul, aponta para um recuo no nível da água. Nesta segunda, o índice chegou a 2,51 metros.

Em Pelotas, na Praia do Laranjal, cerca de 6 mil pessoas foram afetadas. O nível da Lagoa dos Patos no local é de 2,46 metros, abaixo dos 2,75 metros registrados no domingo. O Canal São Gonçalo, que conecta as lagoas dos Patos e Mirim, baixou de 3 metros para 2,74 metros.

Para os próximos dias, há projeção de ventos que devem dificultar o escoamento da água até o oceano, além de chuvas que contribuem para o aumento das águas.

 


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